Bibliografia sobre Pintura no Século XIX e o Modelo da Escola Nacional de Belas Artes:
1) PEREIRA, Sônia Gomes. “Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro: revisão historiográfica e estado da questão”. In: Revista Arte & Ensaios. Rio de Janeiro: PPGAV -EBA/UFRJ, n.8, 2001, pp.72-83.
http://www.eba.ufrj.br/ppgav/lib/exe/fetch.php?media=revista:e08:soniagomes.pdf
2) HERKENHOFF, Paulo. Arte Brasileira na Coleção Fadel: da Inquietação do Moderno à Autonomia da Linguagem. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio, 2002 (Catálogo de exposição).
Comentário da tese do Arthur Valle em 2007:
Alguns exemplos muito claros da relativização dos preconceitos críticos elaborados pelos modernistas podem ser encontrados em estudos relativamente recentes, como o citado texto de Luiz Marques que figura no catálogo da exposição 30 mestres da Pintura no Brasil (2001), ou o de Paulo Herkenhoff apresentando a Coleção Fadel em uma de suas últimas exposições (2002)21. Tais textos são paradigmáticos dos novos olhares lançados sobre a produção acadêmica da 1a República por colocarem em xeque a crença em uma ruptura radical nas artes brasileiras, cujo “divisor de águas” seria justamente a Semana de Arte Moderna de São Paulo de 1922 - nesse sentido, como bem diz Luiz Marques: “é antes de se crer que, felizmente, a crítica de um certo modelo modernista de reconstrução do passado não faça, hoje em dia, senão arrombar portas abertas”22. (VALLE, 2007, p. 10).
Hoje em dia, é também comum se reconhecer que uma certa consciência da autonomia da pintura já se encontrava madura entre os pintores oriundos da ENBA durante a 1a República. Paulo Herkenhoff, por exemplo, defende a idéia de que entre nossos acadêmicos é mesmo possível encontrar obras que revelam “uma consciência moderna da superfície mais radical do que tudo que se exporia na
Semana [de 22]”30. (VALLE, 2007, p. 11).
3) MARQUES, Luiz. “Introdução”. In: MARQUES, Luiz (org.). 30 Mestres da Pintura no Brasil. São Paulo: MASP / Rio de Janeiro: MNBA, 2001, pp.21-23 (catálogo de exposição).
Comentário da tese do Arthur Valle em 2007:
Comentário da tese do Arthur Valle em 2007:
Luiz Marques é talvez o teórico que expresse com mais clareza a versão forte
dessa noção de submissão do Brasil/periferia com relação à Europa/centro. Pelo caráter exemplar de suas formulações, julgamos interessante nelas nos determos por alguns momentos. Em texto por nós já citado, Marques postula que a história de toda a arte brasileira - toda, vale ressaltar, e, portanto, não só a da pintura no período aqui abordado -, nada mais é do que um “epifenômeno” da história da arte
européia.
Luiz Marques
História “externa” da pintura no Brasil? Não propriamente, pois não somos concebíveis fora desse sistema. E seria acaso possível concebê-la “de dentro”, se não há a rigor uma história interna dessa pintura, mas apenas a crônica de suas pequenas instituições, de seu público de seus críticos?
Se, em uma palavra, o princípio e as condições de inteligibilidade de nossa pintura não resultam da tensão de suas dinâmicas internas?45
45 MARQUES, Luiz. Op. cit., p.18; na verdade, a concepção de Marques é ainda mais genérica: “esta
característica de ser um epifenômeno da história da arte européia é um lote reservado não apenas ao Brasil, mas à história da arte das Américas (exceção feita à Nova York e Califórnia do último pós- guerra) e em menor medida a tantos países de expressão geográfica européia, que ecoam de modo mais ou menos imediato os intercâmbios entre a Itália, a França os Países Baixos, a Espanha e a
Alemanha” (Idem, p.18).
4) MIGLIACCIO, Luciano. “O século XIX”. In: AGUILAR, Nelson. Mostra do Redescobrimento: Século XX / Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
5) ZILIO, Carlos. "A modernidade efêmera: anos 80 na Academia". In: 180 anos da Escola de Belas Artes – Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998.
Campofiorito, por exemplo, inclui diversos destes no grupo que “sustentará as melhores condições para a pintura brasileira nesse terço de século”27 e passa a ser notório, como afirma Walmir Ayala, que eles aportam “os valores mais fecundos do período de transição da consciência artística nacional, do colonialismo à autonomia”28. Outros teóricos defendem igualmente a relativização da noção de solução de continuidade entre “acadêmicos” e “modernos”. Nesse sentido, poderíamos lembrar aqui igualmente de Carlos Zílio que demonstra, por exemplo, como preocupações centrais do ideário modernista especialmente as idéias de progresso (atualização) e de identidade nacional (nacionalismo) já se encontravam presentes nas discussões estéticas acadêmicas29. (VALLE, 2007, p. 11).
6) CHIARELLI, Tadeu. “Entre Almeida Jr e Picasso”. In: FABRIS, Annateresa (org.). Modernidade e Modernismo no Brasil. São Paulo: Editora Mercado das Letras, 1994, pp.57-65.
Essa opinião é partilhada por outros, como Tadeu Chiarelli, que, em diversos de seus textos, cita a pintura de alguns artistas oriundos da ENBA como portadora de uma fatura mais “moderna” do que aquela encontrada na obra de nossos próprios modernistas31.
7) LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm: Paisagismo Brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980.
8) DUQUE ESTRADA, Luis G. A arte brasileira. Campinas: Mercado das Letras, 1995; e Graves e frívolos. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1997.
9) MENDONÇA, Aureo Guilherme. A Crítica de Arte no Brasil em fins do século XIX e início do XX: Gonzaga Duque e Angyone Costa. Rio de Janeiro: Pós Graduação da Escola de Belas Artes/UFRJ, 1997 (Dissertação de Mestrado);
10) GRANGEIA, Fabiana de Araujo Guerra. A critica de Arte em Oscar Guanabarino: Artes plásticas no século XIX. Campinas: Programa de Pós-graduação em História IFCH/UNICAMP, 2005. (Dissertação de Mestrado).
11) CHIARELLI, Tadeu.Um Jeca nos Vernissages. São Paulo: EDUSP, 1995.8) DUQUE ESTRADA, Luis G. A arte brasileira. Campinas: Mercado das Letras, 1995; e Graves e frívolos. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1997.
9) MENDONÇA, Aureo Guilherme. A Crítica de Arte no Brasil em fins do século XIX e início do XX: Gonzaga Duque e Angyone Costa. Rio de Janeiro: Pós Graduação da Escola de Belas Artes/UFRJ, 1997 (Dissertação de Mestrado);
10) GRANGEIA, Fabiana de Araujo Guerra. A critica de Arte em Oscar Guanabarino: Artes plásticas no século XIX. Campinas: Programa de Pós-graduação em História IFCH/UNICAMP, 2005. (Dissertação de Mestrado).
Comentário da tese do Arthur Valle em 2007:
Por sua vez, o citado Tadeu Chiarelli, em Um jeca nas vernissages, estudou a atuação de Monteiro Lobato como crítico de arte, demonstrando a coerência de seu partido estético que, de forma alguma, reduzia-se ao conservadorismo e à insensibilidade com relação às novas correntes artísticas, concepção ainda hoje muito difundida e tendenciosamente elaborada a partir da célebre crítica de Lobato à exposição de Anita Malfatti de 191739. Também nesse último aspecto, a produção
universitária tem sido representativa40. (VALLE, 2007, p. 12).
O problema da comparação imediata com a arte francesa:
Dessa forma, os rótulos estilísticos tomados de empréstimo às correntes artísticas européias suas contemporâneas foram usualmente utilizadas para rotular a produção dos pintores fluminenses de outrora. Sem dúvida nenhuma, o mais citado desses rótulos é o de Impressionismo, em função da generalizada prática da pintura ao ar livre entre os artistas da República Velha a qual já nos referimos. Nesse sentido, um teórico como Campofiorito chega a afirmar, sem parecer se importar muito com o caráter redutor de seu enunciado, que “a pintura impressionista [...] passa a imperar na geração que aparece no fim da primeira década do século XX”48. Em especial pintores como Elysêo Visconti, Lucílio e Georgina de Albuquerque foram, sem demais considerações, classificados como impressionistas. De forma análoga, rótulos como divisionismo ou pontilhismo foram também empregadas com relação às obras de, entre outros, João Timótheo da Costa e dos irmãos Rodolpho e Carlos Chambelland, muito especialmente no caso de suas pinturas decorativas. (VALLE, 2007, p. 16).
CAMPOFIORITO e José Teixeira Leite - consideração de Arthur Valle (2007, p. 17).
Não por acaso, as avaliações de nossos principais críticos fornecem
exemplos abundantes desse tipo de juízo. Campofiorito, por exemplo, se referindo novamente à influência impressionista na arte brasileira, acredita que ela foi aqui atualizada “sem sua inteira autenticidade”, sendo seus “postulados [...] diluídos num contexto em que lhe são adicionados certos preconceitos de técnica e forma e lhes tiram parcela ponderável da expressividade plástica”53; Teixeira Leite, por sua vez, falando de Georgina de Albuquerque aponta o entendimento apenas “singelo” que a artista teria da pintura impressionista54; a esses poucos exemplos, cumpre notar,
diversos outros poderiam ser acrescentados (cf. o início do capítulo 4).
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